Existem várias maneiras de se viver de música. Do grande artista ao seu produtor, do artista de bar ao professor de violão, da crítica especializada aos donos de estúdio, todos eles vivem dela. Hoje em dia eu também vivo de música. E isso aconteceu por causa dos discos de vinil, sem que eu quisesse, planejasse ou sequer tivesse imaginado que seria possível. Quer saber como? Aperta um e vem comigo…
Era pelos idos de 2002, 2003… até os CD ‘s já estavam ficando em desuso por causa da cultura do download (o stream existia, mas ainda engatinhava). E através deles que fui conhecendo o mundo da música: o “Sobrevivendo no Inferno”, do Racionais, me foi emprestado por um amigo do ensino médio e explodiu minha cabeça. Se os CDs já estavam em balcões de promoção vendidos a 9,99 nas Lojas Americanas, imagina os discos de vinil.
Um belo dia, voltando da escola, de Madureira para a Penha, me deparei com uma loja de antiguidades cheia de discos. “Quantos é?”, perguntei curioso. “Dois reais”, respondeu o dono, no que a cabeça do adolescente explodiu de novo. Dois reais, por um documento histórico de lançamento musical, que além da arte em tamanho gigante ainda tinha um disco que tocava as músicas! Dois reais?!
Tudo bem que na época um salgado mais um refresco custava apenas um real perto da passarela do trem, mas mesmo assim, o disco era muito barato. Nos sebos do centro da cidade era possível encontrar discos por apenas um real também. Então… um disco ou um salgado? Eu ainda não fumava maconha, então era mais fácil decidir. Um disco, dois discos, três discos. Fui aprendendo, com os textos, com as pesquisas e longas audições – sobre música e produção musical.
O colecionismo me fez eclético. Encontrava raridades de samba e me emocionava, tal como as preciosidades do rock, do blues, da MPB, do reggae, do Jazz ou do RAP. Em 2006 tive que escolher uma faculdade e o jornalismo me pareceu uma boa saída para dar vazão àquele amor pela cultura arte e cultura. Lá sim conheci a ganja, junto com a Teoria da Comunicação. E aí o ritual de abrir um disco e colocar na vitrola ficou muito mais refinado, acoplado ao baseado. Deu match.
De lá pra cá, do nada, passaram-se vinte anos. A coleção de discos catalogados e arrumados em ordem alfabética cresceu. E em tempos de pós-pandemia, um amigo querido, anjo do arteismo, me perguntou: “Cadu, tu tá sem grana, porque você não toca?”, a pergunta veio no momento exato enquanto eu pensava em me desfazer da coleção, justamente por motivos financeiros. Fazia sentido, eu só nunca tinha pensado nisso.
Por sorte eu tinha também duas pick-ups e o mixer. Então foi só testar, treinar e… começar. Gratidão ao Lucas, da CasaGroov, por esse mega incentivo. Muito agradecido também às casas que abrem espaço para a cultura do disco de vinil, isso é lindo demais de se ver – e ouvir. A bolacha tem seu charme e qualidade insubstituível, além da beleza da arte na capa. O destino me fez um bom selecta, pois após duas décadas ouvindo música por amor, não há como isso não te afetar. E quanto afeto!
Fui catando tudo quanto era álbum do Chico Buarque, Djavan, Gilberto Gil, Caetano Veloso que via pela frente. E hoje em dia são eles mesmo que animam o baile. Tenho soltado algumas setlists semanais no perfil do DJ EXPLICA no soundcloud, se quiser ouvir, cola lá: LINK.