Nova pesquisa aponta que pequenas variações genéticas nos receptores de serotonina podem explicar por que algumas pessoas respondem melhor às terapias psicodélicas do que outras.

A composição genética individual de uma pessoa pode desempenhar um papel importante na forma como ela responde à terapia psicodélica, de acordo com um novo estudo publicado na ACS Chemical Neuroscience.
Terapia com psicodélicos
O uso de substâncias psicodélicas têm ganhado cada vez mais espaço na área da saúde, principalmente na psiquiatria, com novos estudos mostrando o potencial dessas drogas (no sentido farmacológico da palavra) para tratar diversas questões de saúde mental, de forma mais eficaz do que medicamentos tradicionais.
Pesquisas recentes mostram resultados promissores no uso da psilocibina, LSD, cetamina, ibogaína, DMT… combinado com psicoterapia.
Mas, embora a maioria dos indivíduos nestes estudos tenha apresentado melhorias significativas em seus sintomas, outros não tiveram nenhuma mudança.
Essa variabilidade individual nas respostas à terapia com psicodélicos ainda não conseguiu ser explicada, mas uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte (UNC) resolveu investigar a questão, correlacionando a influência da genética com essa variabilidade de resposta ao uso dos psicodélicos de forma terapêutica.
Genética e psicodélicos
Psicodélicos como LSD e psilocibina funcionam estimulando os receptores de serotonina no cérebro, especialmente o receptor conhecido como 5-HT2A.
A serotonina é um neurotransmissor que ajuda a regular o humor, as emoções e o apetite, e baixos níveis desse composto natural têm sido associados à depressão e outros problemas de saúde mental.
Porém, os receptores de serotonina podem variar de pessoa para pessoa com base na genética individual.
Variações de sequências aleatórias em genes conhecidos como polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs, pronunciados como “snips”) podem afetar a função e a estrutura dos receptores 5-HT2A, o que significa que algumas pessoas acabam tendo receptores de serotonina ligeiramente diferentes dos outros. Os pesquisadores também descobriram que pessoas com certas variações de SNP têm respostas atípicas a medicamentos antipsicóticos comuns.
A equipe da UNC suspeita que essas mesmas diferenças genéticas também podem influenciar a eficácia da terapia psicodélica.
Para testar sua teoria, os pesquisadores recriaram sete diferentes variações comuns do SNP do receptor 5-HT2A no laboratório. Essas células in vitro foram então expostas a mescalina, LSD, 5-MeO-DMT e psilocina (o composto psilocibina decomposto depois de ingerido.
Como esperado, algumas das variações genéticas reagiram de forma diferente a alguns dos psicodélicos. Por exemplo, uma das variantes do SNP teve uma resposta diminuída a dois dos quatro psicodélicos testados e outra teve uma resposta fraca à psilocina, mas funcionou bem com as outras três drogas.
Curiosamente, algumas dessas variações até alteraram a interação dos receptores com psicodélicos, mesmo que estivessem localizados longe do local exato onde a droga se liga ao receptor.
“Com base em nosso estudo, esperamos que pacientes com diferentes variações genéticas reajam de maneira diferente aos tratamentos assistidos por psicodélicos”, disse Bryan Roth, professor da UNC e principal autor do estudo. “Achamos que os médicos devem considerar a genética dos receptores de serotonina de um paciente para identificar qual composto psicodélico provavelmente será o tratamento mais eficaz em futuros ensaios clínicos”.
O presente estudo não explorou os efeitos dos psicodélicos em humanos, foi feito apenas in vitro, portanto, mais pesquisas serão necessárias para esclarecer as implicações exatas da pesquisa. Mas, outras instituições estão atualmente realizando ensaios clínicos para determinar o valor terapêutico desses psicodélicos, e as descobertas do presente estudo “podem ajudar no desenho e na interpretação final” dessas pesquisas.
“Em resumo, nossas descobertas indicam que os SNPs do receptor 5-HT2A podem alterar a farmacologia in vitro de alguns psicodélicos terapeuticamente promissores”, concluiu a pesquisa. “Nossos resultados sugerem que pacientes e populações com certos polimorfismos podem ser diferencialmente passíveis de tratamentos assistidos por psicodélicos. Juntos, esses resultados podem ter relevância para o desenho e a interpretação de futuros ensaios clínicos”.
“Esta é outra peça do quebra-cabeça que devemos saber ao decidir prescrever qualquer terapia”, disse Roth. “Mais pesquisas nos ajudarão a continuar a encontrar as melhores maneiras de ajudar pacientes”.
Fonte: Merry Jane | Imagem de capa: reprodução St. Louis Public Radio