O que eu observei nos últimos anos é uma crescente onda de conservadorismo vindo dos novos investidores e profissionais de outros mercados, dentro da área canábica, trazendo uma postura que nem sempre existiu no movimento pró-cannabis.

Existem muitas influências fundamentais e necessárias para o avanço e normalização da maconha. Mas, às vezes, tenho a sensação que algumas pessoas estão entrando no mercado apenas visando se beneficiar, esquecendo a cultura e a história que cercam a cannabis.

Acredito que precisamos, sim, apontar os responsáveis pelos os avanços e agradecermos por nos possibilitar estar aqui, desenvolvendo a área canábica, diminuindo, a cada dia, os pré-conceitos.

Mas, ao mesmo tempo, quando falamos de maconha, questões históricas precisam ser levadas em consideração. Dentro da realidade canábica, não podemos deixar o Brasil fazer mais uma vez o que sempre foi feito com os povos oprimidos, o que sempre fizemos com as minorias (que na verdade são maioria).

Quem sofre com a guerra às drogas não é o branco, para esse, já está legalizado faz tempo. 

Quem sofre é aquele negro da quebrada, que não tem nenhuma escolha, toma tapa na cara desde sempre, é preso como traficante e tudo que queria era apenas um baseado para descansar. 

Foram ativistas que mantiveram a discussão sobre o tema, e precisamos agradecer que isso aconteceu, assim como todos os artistas que mantiveram a discussão sobre os benefícios de uma planta tão importante para nós, seres humanos. 

Como por exemplo, Planet Hemp, Pepe Mujica, ”personalidades” que nos mostram que a maconha envolve luta, desestigmatização, ir contra o sistema, que tem um passado sofrido e não pode ser esquecido.

Essas novas influências dentro da área canábica, que muitas vezes só miram no mercado, não deveriam esquecer tudo isso.

A impressão que tenho é que, provavelmente, tudo vai ser esquecido. Aos poucos, esses que observo estarem entrando no mercado agora, vão dominar o discurso, e apelar para um sistema que parece incompatível com a cultura e a história que envolvem a maconha. Parece que querem ”modelar” o movimento canábico para o mundo que vivemos hoje: só buscar o lucro e tirar todo o proveito e receita possível de um modelo de negócio. 

Até quando vamos deixar que o potencial transformador de um mercado que se regulamenta agora – de ter mulheres empreendedoras dominando a cena, ver os negros injustiçados começarem a sair das cadeias e virarem empreendedores – seja apagado?

A maconha legal deveria abrir portas para um novo paradigma e não se enquadrar nos moldes já existentes. Dentro dessa área, podemos fazer muito mais, podemos ser referência para outros mercados entenderem que existe um novo possível. 

Quando falamos de mercado da cannabis, devemos pensar em algo transformador em todas as esferas: pensar em modelos de negócios que levem em consideração salários dignos, um ambiente de trabalho humano, que leve em consideração o tempo, saúde de todos na cadeia de existência de uma empresa. A cannabis, revolucionária por si só, deveria pavimentar o caminho para essa mudança.

Espero imensamente que as gerações futuras se orgulhem do trabalho que estamos fazendo, e espero que nós consigamos mostrar para outros mercados que novas práticas são possíveis. 

Somos apenas o começo de uma grande revolução cultural, e a cannabis é presente, por apresentar os potenciais medicinais para diversas doenças da contemporaneidade, e uma das mais importante, a saúde mental, tão afetada pelo consumo energizante de conteúdo. 

Não gostaria de entregar todo esse potencial na mão de engravatados, investidores preconceituosos, e o clubinho que pensa apenas em lucro. 

Que estejamos preparados! Unidos… sempre!

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