A maconha não é só THC e CBD. Novos canabinóides vêm sendo descobertos e mostrando seu potencial para a saúde e bem-estar.

A planta cannabis consiste em cerca de 600 moléculas diferentes, dentre estas, cerca de 140 são chamados de fitocanabinóides, ou apenas canabinóides, porque atuam no sistema endocanabinóide do nosso corpo – um vasto sistema de mensageiros e receptores químicos que ajudam a controlar muitos dos nossos sistemas corporais mais críticos, como apetite, inflamação, temperatura, processamento emocional, memória e aprendizagem. 

O THC e o CBD são destaque porque foram os primeiros fitocanabinóides a serem isolados e estudados. Dessa forma, seus efeitos, composição química e benefícios já vêm sendo elucidados há algum tempo, tendo sido alvo de um grande número de pesquisas. 

Mas, era apenas uma questão de tempo até que novos canabinóides fossem descobertos pela comunidade científica.

Porém, até agora, muitos dos dados para esses compostos recém-descobertos vêm de estudos em animais, então vai levar algum tempo – e pesquisa de alta qualidade – para determinar se os benefícios que foram encontrados em animais se aplicarão aos humanos.

CBG (Canabigerol)

CBG, ou canabigerol, é um canabinóide com propriedades terapêuticas para o alívio da ansiedade, dor, infecção, inflamação, náusea e até mesmo para o tratamento do câncer. 

Ele tem uma grande variedade de usos médicos potenciais, mas todos os estudos que foram feitos sobre ele foram feitos em animais, por isso é difícil determinar seus benefícios totalmente para humanos. Experimentos em camundongos mostraram que o CBG pode diminuir a inflamação associada a doenças inflamatórias do intestino e que pode retardar o crescimento do câncer colorretal. Nas células, inibe as células do glioblastoma multiforme.

O CBG também demonstrou atuar como um antimicrobiano contra muitos agentes diferentes, incluindo bactérias de difícil tratamento que causam infecções adquiridas em hospitais. 

Além disso, o CBG é um estimulante do apetite e também pode ajudar a tratar as contrações da bexiga. Atualmente, um dos principais perigos em seu uso reside na falta de regulamentação dentro da indústria. 

THCV (Tetrahidrocanabivarina)

O THCV é potencialmente estimulante e tem se mostrado eficiente para tratar obesidade e diabetes. 

Existem dados robustos, a partir de estudos feitos com animais, que indicam o potencial do THCV para reduzir os níveis de insulina em jejum, facilitar a perda de peso e melhorar o controle glicêmico. 

Em um estudo de 2016, publicado na Diabetes Care, o THCV demonstrou melhorar significativamente a glicose em jejum, a função das células beta do pâncreas (as células que produzem insulina e que falham no diabetes), bem como vários outros hormônios associados ao diabetes. 

Em animais e humanos, foi bem tolerado sem efeitos colaterais significativos. Em lugares como Israel, onde o estudo dos canabinóides é muito mais avançado, strains com altos níveis de canabinóides como o THCV (e baixos níveis de THC) estão sendo cultivadas para que possam ser melhor estudadas.

CBDV (Canabidivarin)

Em comparação com seu homólogo, o Canabidiol, o CBDV é encurtado por dois grupos metil (CH2) em sua cadeia lateral. Tanto o CBDl quanto o CBDV demonstraram atividade anticonvulsivante em modelos animais e humanos e estão demonstrando resultados de ensaios clínicos promissores. 

Embora os componentes primários da cannabis, CBD e THC, tenham mostrado modular muitos de seus efeitos fisiológicos por meio de sua ligação aos receptores CB1 e CB2, o CBDV parece usar mecanismos que não envolvem esses dois receptores endocanabinóides.

Pesquisas mostram que o CBDV afeta a via neuroquímica dos receptores de capsaicina, envolvidos tanto no início quanto na progressão de vários tipos de epilepsia. A indústria farmacêutica GW relata que o CBDV mostrou resultados antiepilépticos “em uma gama de modelos in vitro e in vivo de epilepsia”.

Mais estudos estão investigando o potencial desse canabinóide como um agente anti-náusea, para Síndrome de Rett, Distrofia muscular de Duchenne (DMD), e Transtorno do Espectro do Autismo. 

CBN (Canabinol)

O Canabinol está presente em pequenas quantidades na planta de cannabis, mas é principalmente um subproduto da degradação do THC. 

A maconha que ficou parada por muito tempo tem a reputação de se tornar “maconha velha e sonolenta” – supostamente por causa das concentrações mais altas de CBN nela, embora haja outras explicações plausíveis para esse fenômeno. 

O CBN é amplamente comercializado por suas qualidades sedativas e indutoras de sono, mas na revisão de literatura, é interessante notar que não há praticamente nenhuma evidência científica de que o CBN o deixa sonolento, exceto por um estudo de ratos que já estavam tomando barbitúricos, e que dormiu mais quando o CBN foi adicionado. Isso não quer dizer que o CBN não deixe as pessoas sonolentas – como muitas pessoas afirmam – apenas que essa característica ainda não foi estabelecida através de estudos clínicos. 

O CBN, entretanto, tem potencial para atuar como um estimulante do apetite e um agente antiinflamatório – ambos usos médicos extremamente importantes, se ocorrerem em humanos. 

Um estudo recente de Israel em humanos demonstrou que strains de cannabis com alto teor de CBN foram associadas a um melhor controle dos sintomas de TDAH. A questão é: são necessários mais estudos clínicos antes que as apelações de marketing sobre os benefícios do CBN sejam apoiadas pela ciência.

Delta-8-THC

O Delta-8-THC é encontrado em pequenas quantidades na cannabis, mas pode ser destilado e sintetizado a partir do cânhamo. 

O Delta-8-THC é um canabinóide considerado psicoativo, com sensações parecidas com o THC, mas bem amenas. 

Ele pode aliviar muitos dos mesmos sintomas que produtos com THC e CBD também aliviam, tornando-se um medicamento potencialmente atraente para pessoas que querem pouco da sensação de ”ficar chapado”. Principalmente por apresentar propriedades parecidas com o THC, mas podendo ser consumido por pessoas que querem evitar sensações desconfortáveis que ele pode causar, como ansiedade ou paranóia, dependendo do caso. 

Acredita-se que seja especialmente útil para melhorar náuseas e o apetite. Existem algumas evidências (embora de um estudo muito pequeno com 10 crianças) que sugerem que o delta-8-THC pode ser uma opção eficaz para prevenir o vômito durante os tratamentos de quimioterapia para o câncer. 

Embora as alegações do delta-8 sejam intrigantes, faltam bons estudos em humanos para comprovar sua eficácia ou segurança. Portanto, apesar de estar sendo cada vez mais comercializado como maconha medicinal, é preciso ter cautela. 

Estamos vivendo momentos importantes na história, com novas descobertas ocorrendo diariamente na ciência dos canabinóides. 

No entanto, é necessário filtrar um pouco o entusiasmo pelas lentes da ciência. Muitos produtos estão sendo comercializados na indústria da cannabis legal sem comprovação de eficácia em humanos, por isso, mais pesquisas surgem a cada dia e é fundamental que novos estudos possam comprovar a aplicabilidade dos benefícios dos canabinóides em humanos. 

Fonte: Harvard

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