Os humanos não são os únicos a gostar de maconha – e a produzir produtos terapêuticos a partir da planta.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Cornell (EUA), publicado na revista Environmental Entomology, descobriu que as abelhas são super atraídas pelas plantas de cannabis, através do seu pólen doce.
Este estudo apóia os resultados de uma pesquisa semelhante realizada por pesquisadores da Universidade do Colorado (EUA), e se mostra como promissor para salvar a população de abelhas em declínio em todo o mundo.
O estudo descobriu que quanto mais altas as plantas de cannabis são e quanto maior a área que cobrem, mais abelhas se reúnem.
O que é ainda mais legal é que existem 16 variedades diferentes da planta de maconha que podem sustentar essas populações de abelhas. Mas, mesmo que as abelhas pareçam amar a planta de cannabis, elas não ficam chapadas, já que os insetos não possuem receptores canabinóides.
Essas descobertas parecem confusas quando você considera que a cannabis não tem néctar, nem as cores vibrantes que geralmente chamam a atenção das abelhas. No entanto, as abelhas gostam mais das plantas masculinas, que geralmente crescem ao lado das flores femininas que produzem os buds, mas não têm propriedades psicoativas.

Mel medicinal
Outro ponto muito interessante na relação entre abelhas e maconha é que esses insetos podem produzir mel com canabinóides, de forma natural.
Os apicultores, ao longo dos tempos, notaram diferenças de sabor entre mel derivado de diferentes plantas. As abelhas que coletam o néctar das flores de lavanda, por exemplo, produzirão um mel perfumado, enquanto o mel produzido de plantas de abacate é considerado bastante amanteigado.
Então, o que aconteceria se uma abelha fosse alimentada com um néctar infundido com canabinóides? Produziria mel com a infusão dos compostos da maconha?
A PhytoPharma International, uma empresa israelense de tecnologia de cannabis, juntou-se ao Professor Dedi Meiri – chefe do Laboratório de Pesquisa de Câncer e Cannabinóides do Technion (Instituto de Tecnologia de Israel) para descobrir se é possível que as abelhas cultivem mel com os benefícios medicinais dos fitocanabinóides a partir de cannabis.
Após extensa pesquisa, a equipe descobriu, com sucesso, um método que permite que as abelhas expressem naturalmente canabinóides ativos em seu mel, fornecendo um produto medicinal poderoso, com os benefícios terapêuticos do CBD e THC.
“O mel serve como um vetor de alta eficiência para atravessar a barreira hematoencefálica. Ao produzir o mel, os canabinóides são transformados no estômago das abelhas em moléculas altamente eficientes”, comenta o CEO da PhytoPharma em entrevista para Forbes.
Portanto, eles usam baixas quantidades dos canabinóides para obter uma alta eficácia. As abelhas convertem todo o espectro da planta no mel.
Esse mel, conhecido como Bee Fuse, não é um produto com infusão de cannabis, mas sim um produto totalmente natural, combinando a amada textura e sabor do mel com as propriedades curativas da cannabis.
“Estamos aprimorando a natureza, com a natureza”, disse Avner Ben Aharon, CEO da Phytopharma International, à Forbes. “Combinamos os poderes curativos da cannabis com a incrível capacidade de entrega do mel”, complementa.
Benefícios únicos
O mel fúcsia é caracterizado por sua rápida atuação (5 a 10 minutos) em comparação com outros produtos comestíveis, que podem levar de 30 a 90 minutos para fazer efeito.
Portanto, o mel é mais apropriado para pacientes que requerem ativação rápida, como aqueles com dor crônica. Em segundo lugar, contém até 100 vezes a eficácia dos edibles: 2mg de mel com canabidiol foram relatados para aliviar significativamente a dor de pacientes com fibromialgia.
O não psicoativo CBD Honey tem uma concentração de 0,5mg do canabidiol por 1g de mel, enquanto o psicoativo THC Honey contém um nível de 0,7 mg de tetrahidrocanabidiol por grama de mel.
“A biodisponibilidade melhora significativamente em comparação com qualquer outra mistura ou produto infundido”, diz um dos pesquisadores ao The Cannigma. “Um comestível normal de CBD conterá 10 miligramas em dose única. Posso dizer que se você tem uma biodisponibilidade forte, não precisa nem da metade. Dois miligramas farão o trabalho. Meio miligrama vai fazer o trabalho. Temos um produto no mercado que contém um terço de miligrama”.

A maconha pode salvar as abelhas?
Essas descobertas são extremamente relevantes porque as abelhas são responsáveis pela polinização cruzada de flores, que promove o crescimento das frutas e vegetais (fundamentais para nossa sobrevivência). Porém, sabe-se que a população de abelhas estão sumindo pelo mundo, mas a maconha poderia ajudar a salvá-las, já que a planta, geralmente, não usa muitos pesticidas, nem requer muita água para crescer.
Além disso, a PhytoPharma descobriu, durante seu processo de pesquisa, que seus métodos de alimentação de colônias de abelhas, uma composição que inclui cannabis, levaram a uma proliferação bem-sucedida da população desses insetos.
Normalmente, a maioria das colônias de abelhas domesticadas é simplesmente alimentada com xarope de açúcar na indústria do mel. A composição alimentar da PhytoPharma, no entanto, parece fornecer nutrição superior à sua colônia de abelhas.

Ademais, as abelhas selvagens também estão se beneficiando à medida que mais culturas de cannabis e cânhamo são plantadas nos Estados Unidos.
Um pesquisador da Colorado State University descobriu que 23 espécies diferentes de abelhas visitaram uma fazenda industrial de cânhamo no norte do Colorado entre o final de julho e o final de setembro. Descobriu-se que elas usavam as plantas de cânhamo como uma fonte muito necessária de pólen nos meses do final do verão, quando a maioria das culturas já havia concluído a floração. As plantas de cannabis e cânhamo, portanto, fornecem um recurso nutricional valioso para forragear populações de abelhas em uma época em que as fontes de pólen são escassas.
Essas pesquisas são promissoras por comprovar a relação simbiótica da cannabis com as abelhas, trazendo benefícios para pacientes, com a produção de um mel eficiente e terapêutico, e, talvez mais importante, ao futuro ecológico do planeta.
Fontes: CannabisTech, Cannigma, Forbes e Vice