[email protected] de ouvir sua mãe dizer que maconha mata neurônios? 

Debater (de forma saudável) sobre a cannabis com seus familiares pode ser uma forma de mudar a visão distorcida sobre a planta.

(Imagem: reprodução Post Grad Problems)

Quando o assunto é maconha, sabemos que ainda existe muita desinformação, preconceito e estigma. 

Por conta do proibicionismo, a maconha foi demonizada e criou-se uma imagem distorcida dessa planta. Com isso, boa parte das pessoas ainda carregam visões errôneas sobre a cannabis.

Muitas vezes, os familiares (sobretudo os mais velhos, que tendem a ser mais conservadores) se colocam contra os usos da maconha por conta desse estigma. 

(Imagem: reprodução Thrive Global)

Porém, novas pesquisas científicas surgem a cada dia, desmistificando a maconha e trazendo informações concretas sobre essa planta.

Portanto, mostrar essas novas informações para os familiares pode ser uma boa ideia para tentar mudar a visão negativa sobre a maconha. 

Se você estiver munido de informação de qualidade, um debate sobre o tema pode ser muito saudável. 

Assim, separamos algumas informações (com embasamento científico) que desmistificam pré-conceitos mais comuns sobre a erva para você debater com sua família sobre o assunto:

  1. Maconha não mata neurônios e não deixa burr@

A lenda de que a maconha faz mal para o cérebro veio de um estudo antigo feito com primatas, onde foram observadas mudanças nas células do cérebro. Porém, não foi relatada morte dessas células.

Estudos mais recentes mostram que a cannabis não prejudica o cérebro dessa forma. O que se sabe é que a erva pode ter influência sobre o cérebro de adolescentes, podendo afetar a concentração e motivação. Por isso, o uso de maconha de forma recreativa não é indicado para menores de 18 anos, assim como o álcool. 

Em países onde a erva já é legalizada, a lei proíbe a venda e consumo recreativo para menores de idade. Exatamente porque não é indicado. 

Contudo, pesquisas realizadas com pessoas mais velhas mostraram que, na verdade, a maconha pode promover novas sinapses, proteção do cérebro e crescimento de novas células cerebrais. 

Exatamente por essas descobertas, a cannabis tem sido usada para tratar doenças neurodegenerativas.

(Imagem: Elsa Olofsson | Unsplash)
  1. Maconha não vicia como outras drogas (nem causa overdose)

Esse é mais um mito que foi muito disseminado ao longo do tempo e reforçado pelo fato da maconha ter sido equiparada a drogas como heroína e cocaína, inclusive dentro do âmbito da Organização Mundial da Saúde.

No regime internacional de controle de drogas estabelecido pela ONU, a cannabis ainda está nos Anexos mais restritivos, junto a essas drogas pesadas.

Graças a novas pesquisas científicas, hoje é comprovado que a erva é menos viciante que álcool, opióides e tabaco, por exemplo, e não causa overdose.

Porém, existe, sim, uso problemático de maconha. 

Segundo um Professor de Medicina da Universidade de Harvard, existem pessoas que usam cannabis em detrimento do trabalho, da escola e dos relacionamentos, isso caracteriza o uso problemático. 

Mas é algo bem diferente da dependência química, causada por substâncias legais como álcool, tabaco, açúcar e medicamentos. 

Um estudo analisou os danos de várias drogas (danos em relação ao entorno do usuário e danos para si próprio) e mostrou que a maconha é a ”droga” com menos riscos do que álcool, heroína, crack, metanfetamina, cocaína e tabaco. 

Mesmo assim, muitas pessoas enxergam a erva como algo tão prejudicial quanto essas drogas – e não é.

(Imagem: reprodução Healthline)
  1. Assim como muitas plantas, a cannabis tem diversos benefícios terapêuticos para nossa saúde

É difícil entrar na cabeça das pessoas que a maconha é uma planta, assim como a babosa cultivada no quintal de casa, por exemplo.

Muitas plantas são usadas na medicina (inclusive dando origem a medicamentos importantes) por conta de seus potenciais terapêuticos, e a maconha é mais uma delas.

Milhares de pesquisas científicas surgem a cada dia comprovando os efeitos benéficos da cannabis para a área da saúde. 

(Imagem: CBD Infos | Unsplash)
  1. A maconha não serve só para ficar [email protected]

Essa verdade vai de encontro com todas as comprovações terapêuticas da planta, ou seja, a maconha apresenta diversas aplicações para a área da saúde.

Para além dos benefícios medicinais, a cannabis tem potenciais industriais (a fibra do cânhamo tem sido explorada em diversas áreas: desde a construção civil a indústria têxtil), benefícios para o meio-ambiente, para pets, e por aí vai. 

Na verdade, apenas um de seus componentes tem efeitos psicoativos comprovados: o THC.

As outras centenas de componentes da planta podem ser aproveitados para diversas outras finalidades que não causam estados alterados. 

(Imagem: Enecta Cannabis extracts | Unsplash)
  1. A cannabis é usada há milhares de anos pelos humanos (a ponto de termos desenvolvido um sistema todo dedicado a ela no nosso organismo)

Registros históricos apontam que a maconha já era usada há mais de 10.000 anos atrás. 

Assim como outras espécies botânicas, a cannabis foi utilizada ao longo da história para finalidades medicinais, ritualísticas, como moeda de troca, para fabricação de cordas, papeis, roupas… 

O proibicionismo reverteu completamente essa realidade, trazendo informações falsas sobre essa planta milenar e demonizando todos seus usos. 

Mas é, no mínimo, estranho pensar que uma planta utilizada por diversas civilizações, do nada, se tornou um mal a ser combatido. 

É por isso que argumentos a favor da proibição e contra essa planta (os famosos mitos) podem ser facilmente desmistificados.

O argumento ”matador” para esse debate é: se é uma planta que faz tão mal, como podemos ter um sistema no nosso organismo que se liga diretamente com os componentes da maconha?

Ao longo da história, nós domesticamos a maconha (aproveitando-a e usando para diversas finalidade) e ela causou modificações no organismo humano, explicadas pelo desenvolvimento do sistema endocanabinóide. 

Ou seja, por todo nosso corpo, nós temos um sistema que se liga aos fitocanabinóides da planta. 

Esses componentes da planta funcionam como uma chave e, no nosso organismo, o sistema endocanabinóide é a fechadura. 

Muitas das aplicações da planta se explicam pelo fato de ao consumirmos os canabinóides, estamos estabelecendo o equilíbrio desse sistema e mantendo muitas funções básicas do nosso corpo funcionando perfeitamente.

(Imagem: CRYSTALWEED cannabis | Unsplash)
  1. A legalização trouxe mais resultados positivos do que negativos

Contra fatos não há argumentos – ou há (para os mais negacionistas). 

Mas o que importa é que os dados de países como Canadá, Uruguai e estados norte-americanos, como Colorado, mostram que a legalização não aumentou o uso, não causou problemas de segurança pública e não trouxe problemas de saúde pública. 

Na verdade, a legalização foi benéfica à medida com que os impostos sobre as vendas legais se transformaram em investimentos para educação pública e saúde pública. 

Foi comprovado que os gastos com a Guerra às Drogas são exorbitantes e zero efetivos, já que o consumo de drogas só aumenta. Por outro lado, um mercado regulado gera retornos financeiros para o estado.  

A violência (e demais problemas de segurança pública, como super encarceramento) gerada com o proibicionismo é muito maior do que com a legalização. Um estudo da Universidade do Colorado mostrou redução de crimes após a legalização. 

Outro benefício da legalização: tirar o mercado da erva das mãos do tráfico é a melhor saída para evitar o acesso a drogas mais pesadas. 

Além disso, o acesso legal e regulamentado fez com que pessoas menores de idade tivessem o acesso dificultado (assim como para comprar álcool, é necessário apresentar documento que comprove a idade).

Pessoas maiores de idade podem comprar de maneira legal, produtos de qualidade, com procedência conhecida.

Sem contar que o mercado legal da maconha é um dos que mais cresce no mundo, tendo ultrapassado os US$ 20 bilhões em 2020.

Esses são alguns dos benefícios mais reportados da legalização. 

(Imagem: reprodução Greenhouse Grower)
  1. A legalização não vai fazer com que todo mundo vire [email protected]

Como mencionado, não houve aumento do consumo com a legalização. 

Um estudo, inclusive, constatou que houve diminuição do uso entre adolescentes com o mercado legal. 

Não é porque você vai tornar o acesso legal, que toda a população vai (necessariamente) começar a comprar.

Quem já consome, compra independente do mercado legal ou não. Mas, claro, um mercado legalizado e regulamentado é melhor para a sociedade como um todo, do que o mercado ilícito (pelos motivos citados no ponto anterior). 

Para menores de idade, o acesso ficou mais restrito com o mercado legal. 

Quem não consome, não vai passar a fazer uso imediatamente após a legalização. 

E mesmo que toda a população virasse canabista, não haveria problemas. 

Como dito anteriormente, desde que o uso recreativo seja responsável – e você entenda os efeitos para você – a maconha tende a ser uma aliada mais positiva do que outras substâncias recreativas.

Sem contar que, com a erva legalizada, as aplicações medicinais e industriais poderiam ser amplamente aproveitadas de maneira benéfica. 

A cannabis não é só fumada: ela pode ser um medicamento, incorporada em um produto tópico, chás, bebidas, pode ser transformada em concreto e roupas. 

(Imagem: Pharma Hemp Complex | Unsplash)
  1. Não é porta de entrada para outras drogas (na verdade, pode ser a porta de saída)

Quem é a favor do proibicionismo, frequentemente, usa o argumento de que a maconha é a porta de entrada para outras drogas. 

Porém, nenhuma evidência confiável mostra que a maconha torna as pessoas mais inclinadas a usar outras drogas. 

Essa foi a conclusão de um estudo realizado pelo Departamento Nacional de Justiça dos Estados Unidos. 

“Nenhuma relação causal entre o uso de cannabis e o uso de outras drogas ilícitas pode ser reivindicada neste momento”, os autores escreveram.

É verdade, por exemplo, que a maioria das pessoas que usa opiáceos e outras drogas também usou maconha em algum momento de suas vidas. 

No entanto, você pode fazer a mesma afirmação sobre álcool, cigarros, cafeína ou qualquer outra substância comum. 

Além disso, estudos mostram que a maconha pode ajudar pacientes com dependência química, contribuindo para os efeitos adversos da desintoxicação de álcool e crack, por exemplo. 

(Imagem: Elsa Olofsson | Unsplash)
  1. A maconha não deixa você violento

Acadêmicos fizeram muitas pesquisas examinando diretamente a relação entre o uso de maconha e o crime e não encontraram nenhum. 

Em 2013, uma revisão abrangente conduzida pela Rand Corp. em nome da Casa Branca dos Estados Unidos concluiu que “o uso de maconha não induz ao crime violento”.

Um estudo mais recente, financiado pelo Departamento de Justiça dos EUA, sobre os efeitos da legalização no estado de Washington, descobriu que “nem o crime relacionado à cannabis nem os crimes mais graves parecem ter sido afetados pela legalização”. 

Mais uma vez, como já mencionado, evidências mostram que, na verdade, a legalização e uso da maconha podem levar a crimes menos violentos. 

Pensando que os efeitos psicoativos mais comuns da cannabis incluem relaxamento, bem-estar e alegria, fica difícil defender que ao consumir a erva, a pessoa fica violenta.

(Uma observação válida aqui é que, em alguns casos, o uso do THC pode levar à psicose ou esquizofrenia ou outros problemas de saúde mental. Por isso, reiteramos que é importante fazer o uso recreativo de maneira responsável, entendendo quais são os efeitos da maconha para você). 

(Imagem: Elsa Olofsson | Unsplash)
  1.  Fumar maconha não te deixa preguiçoso 

Mais um mito que já foi derrubado pela ciência.

Como citado acima, o uso da maconha por jovens (menores de 18 anos) pode, sim, causar desmotivação e outros efeitos negativos na cognição. 

Porém, o estereótipo do canabista preguiçoso e ”vagabundo” não passa de uma lenda. 

É claro que a maconha pode te deixar mais relaxado e, como dito anteriormente, algumas pessoas possuem uso problemático. Mas, a ligação direta entre maconha e ”vagabundagem” não existe.

Uma pesquisa recente, inclusive, mostrou que os usuários frequentes e leves de cannabis relataram realizar mais atividade física do que os não usuários, sugerindo que a erva pode encorajar a atividade física. 

Além disso, outras pesquisas mostram que pessoas bem-sucedidas são consumidoras de maconha. 

O poder da argumentação

O objetivo de tentar apresentar fatos sobre a maconha para a família (ou para quem quer que seja) não é gerar discórdia, muito menos uma briga de quem está certo ou quem está errado. 

A ideia é proporcionar informação de verdade e tentar mudar entendimentos baseados em mitos. 

Se não rolar conversa ou um debate saudável, é porque, infelizmente, algumas pessoas preferem acreditar apenas no que faz sentido para elas – independentemente dos fatos. 

Você já tentou conversar sobre maconha com a sua família? Como foi a experiência?

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