A maconha é utilizada por seres humanos há séculos. Apesar de ter se tornado ilegal ao longo da história, hoje, existem lugares onde a economia local é baseada no cultivo da planta.

O vilarejo de Malana, no Vale de Kullu, região indiana dos Himalaias, é um dos mais antigos e isolados do país.
Além de ser um local de difícil acesso (para chegar à Malana, são necessárias seis horas de caminhada), o vilarejo é um dos lugares mais tradicionais quando o assunto é cannabis.

Com uma população de cerca de 1,7 mil habitantes, durante décadas os moradores criaram ovelhas, colheram ervas nativas e cultivaram as terras para viver. Mas o cultivo de maconha e produção de haxixe se transformou na força da economia local e popularizou o vilarejo.
A cannabis entra na economia de vilarejos como Malana por ser uma das únicas plantas que rende colheita mesmo em condições geográficas e climáticas adversas. Durante o ano, a cannabis é cultivada e sua produção é vendida ou trocada pelos moradores por comida e outras ferramentas.
Proibição das tradições
Apesar da maconha ser central na economia e cultura de Malana, o governo indiano a proíbe desde 1985. A posse de charas (um tipo de haxixe) pode levar a 10 anos de prisão.
Mesmo assim, nas distantes montanhas do norte de Índia, o remoto vilarejo é um dos principais berços do charas.
Legisladores e autoridades locais dizem que a planta faz parte de sua tradição e têm empatia com as pessoas do vilarejo, que consideram a cannabis o único recurso comercial que conseguem cultivar em meio às condições adversas.

Maheshwar Singh, legislador da região de Malana, e descendente da família real Kullu, afirma que “se olharmos os registros, veremos que tanto a cannabis, quanto o cânhamo sempre foram plantas multiuso para esse aldeões. Elas eram importantes fontes de renda e troca de bens para as famílias”.
Porém, com a legislação repressiva internacional, a cultura local foi desrespeitada e está ameaçada, visto que qualquer pessoa que trabalhe na produção do charas pode ser criminalizada.
Turistas indianos e estrangeiros visitam o vilarejo procurando a famosa Malana Cream, uma variedade local de haxixe, que já ganhou duas Cannabis Cups.
Apesar de ter se tornado um haxixe mundialmente famoso, os produtores do Malana Cream tem que lutar com o proibicionismo imposto ao seu vilarejo.
Realidade árdua
Com esse cenário, os moradores de Malana precisam esconder suas plantações para poder produzir o haxixe, que por muitos meses do ano, é a única fonte de renda.
Para conseguir comida e suprimentos, o povo do vilarejo passa metade do ano coletando itens da natureza (como madeira e alguns alimentos), o que eles não conseguem obter na aldeia, eles buscam a milhas de distância.
A outra metade do ano, os moradores estocam o que foi coletado e passam em estado de hibernação, enquanto o inverno rigoroso enterra a vila sob a neve.
Uma das moradoras de Malana comentou ao jornal Independent sobre a dificuldade de enfrentar a proibição da maconha: ”Trigo e outros grãos não crescem nesta terra”. “Nada mais cresce aqui. Temos que viver assim, e todas as plantas que temos são cortadas pela polícia. O que podemos fazer?”.

A saída que o povo de Malana encontrou foi plantar maconha em montanhas distantes, onde o acesso é ainda mais difícil e a polícia não consegue chegar.
Um outro morador comenta: “se o governo nos ajudasse de alguma forma e nos protegesse da fome e do frio, talvez considerássemos parar. Obviamente, não vamos passar fome. Mesmo que tenhamos que ir para a cadeia por isso, que seja.”
A história desse vilarejo remoto mostra como a proibição prejudica tradições e a economia local, pautadas no cultivo da maconha de forma milenar.