Frente ao caso de Sha’Carri Richardson, eliminada das Olimpíadas de Tóquio por doping com THC, a Agência Mundial Anti-Doping (WADA) vai avaliar a possibilidade de retirar a maconha de substâncias proibidas.
Canabidiol pode, mas e a maconha?
Desde 2018, a WADA retirou o CBD da lista de substâncias proibidas, abrindo precedente para que atletas consumissem o canabinóide isolado através de diversos produtos. Mas a Agência manteve os demais canabinóides, bem como a maconha em si, proibidos.
Nesse cenário, as Olimpíadas de Tóquio foram os primeiros jogos onde os competidores puderam fazer uso do CBD sem sofrerem penalidades ou serem eliminados por doping.
A polêmica começa quando a Agência começa a segregar o CBD do resto da maconha. Se é tudo proveniente da planta Cannabis Sativa L., porque um canabinóide pode e o resto não? A própria regulamentação da WADA é um tanto curiosa: ”Todos os canabinóides naturais e sintéticos são proibidos, exceto o canabidiol (CBD). Cannabis, haxixe e maconha são proibidos. Produtos, incluindo alimentos e bebidas, contendo canabinóides, também são proibidos. Todos os canabinóides sintéticos que imitam os efeitos do THC são proibidos”.
A própria distinção entre cannabis x maconha gera controvérsias e, de maneira geral, a proibição da Agência parece reforçar a dicotomia ”CBD bom” versus ”THC mau”.
Com esse contexto, o debate pegou fogo com a eliminação da velocista Sha’Carri Richardson por doping com o tetrahidrocanabinol.

Reavaliação da medida
Frente ao ocorrido, o comitê executivo da organização disse que aceitou uma recomendação de um conselho consultivo da lista de drogas para reexaminar a proibição sobre a maconha, o que poderia viabilizar uma possível mudança na política da WADA.
Em um comunicado à imprensa, a WADA disse que o painel concordou em conduzir a revisão “após o recebimento de solicitações de uma série de partes interessadas.” Não citou essas partes interessadas, mas várias ligas atléticas – bem como legisladores norte-americanos e o presidente Joe Biden – sugeriram que a proibição internacional da maconha para atletas deveria ser reconsiderada. No comunicado, a organização acrescentou que a cannabis permanecerá proibida até 2022, enquanto a revisão estiver em andamento.
Richard Pound, que foi o primeiro presidente da WADA, reagiu à notícia dizendo ao Marijuana Moment que ele é “a favor de uma revisão científica de qualquer substância que esteja na Lista Proibida, para que possamos agir com base em fatos”.
Em uma entrevista anterior, Pound afirmou que os Estados Unidos foram realmente bastante inflexíveis quando a cannabis entrou na lista de substâncias proibidas quando a proibição foi promulgada pela Agência na década de 1990.
Governantes dos EUA entraram em contato com a WADA sobre a suspensão de Richardson e receberam uma resposta que dizia como os EUA foram os principais responsáveis em colocar a maconha na lista de substâncias proibidas para atletas internacionais, em primeiro lugar.
Após a suspensão da velocista Sha’Carri, órgãos norte-americanos têm pressionado a WADA para reavaliar a proibição da maconha.
A própria Sha’Carri disse no mês passado que está esperançosa de que sua suspensão de participar das Olimpíadas, após o teste positivo para maconha, possa levar a uma mudança na política internacional para os atletas.
Liberação da maconha no esporte
Enquanto isso, defensores abraçaram amplamente as reformas das políticas sobre a maconha em outras grandes organizações esportivas profissionais, argumentando que já deviam ter sido feitas há muito tempo, especialmente devido ao movimento de legalização em constante expansão.
A política de exames toxicológicos da NFL, por exemplo, mudou no ano passado, eliminando a possibilidade dos jogadores serem suspensos dos jogos por causa de testes positivos para qualquer droga – não apenas maconha.
Na mesma linha, a MLB decidiu, em 2019, remover a cannabis da lista de substâncias proibidas da liga. Jogadores de beisebol podem consumir maconha sem riscos de serem suspensos, mas as autoridades esclareceram no ano passado que eles não podem trabalhar enquanto estão sob influência e não podem celebrar contratos de patrocínio com empresas de maconha, pelo menos por enquanto.

Uma política temporária da NBA de não testar drogas aleatoriamente em jogadores para maconha em meio à pandemia de coronavírus pode, em breve, se tornar permanente, disse o principal funcionário da liga em dezembro.
O ícone da maconha Snoop Dogg também argumentou recentemente que as ligas esportivas precisam parar de testar jogadores para maconha e permitir que eles a usem como alternativa aos opióides prescritos.
Fonte: Marijuana Moment