A economia da cannabis legal movimenta milhões e sabemos que o Brasil tem tudo para se beneficiar da legalização da planta. Um relatório da Kaya Mind (empresa especializada em análise de dados do mercado da cannabis no Brasil) aponta que o tamanho do mercado anual de cannabis medicinal será de R$ 9,5 bilhões no 4º ano após a legalização.
Tudo indica que poderíamos estar à frente da Corrida Verde e indústrias estrangeiras também acreditam no potencial do Brasil.
Apostas no mercado brasileiro
Gigantes da cannabis, como Clever Leaves e Canopy Growth, já demonstraram interesse no mercado canábico brasileiro, tanto pelo tamanho do mercado consumidor, quanto pela vantagem do clima e proporção de terras agricultáveis, fatores perfeitos para tornar o Brasil um grande cultivador e produtor de cannabis para fins medicinais e industriais.
O próprio vice-presidente de relações governamentais globais da Canopy Growth afirma que a empresa está monitorando ativamente o avanço da legislação sobre cânhamo no Brasil, em declaração para Reuters.
O banco de investimentos Panarea Partners, com sede em Nova York, vê o Brasil potencialmente liderando o cultivo na América Latina, uma região destinada a ser o epicentro da produção mundial de cânhamo.
Potenciais
Através de um estudo da startup brasileira de cannabis Adwa, cerca de 3 milhões de quilômetros quadrados teriam aptidão alta ou muito alta para o cultivo da planta no Brasil. Mesmo usando apenas uma porção insignificante da área potencial, o Brasil poderia facilmente ultrapassar a China – o atual maior produtor mundial de cânhamo.
“Usar uma parte das terras agrícolas do Brasil seria o suficiente para dar ao país o título de maior produtor e exportador mundial de fibras de cânhamo, sementes e flores para fins medicinais e industriais”, afirma Dennys Zsolt, agrônomo especialista, para Reuters.
Uma eventual autorização para o cultivo de cânhamo e cannabis no Brasil seria disruptivo. Toda uma indústria poderia florescer e diversas oportunidades surgiriam, com base na experiência de outros países, como a Colômbia.
A Colômbia, que recentemente autorizou a exportação de cannabis, está prestes a bater o Canadá em produção da planta, tomando a dianteira na Corrida Verde. Se o Brasil começar a produzir, facilmente poderá liderar o cultivo e produção de maconha para fins medicinais e industriais mundialmente.

Situação atual
Algumas dessas grandes indústrias já conseguem vender medicamentos com CBD no país, desde que a Anvisa permitiu a importação, venda e fabricação de produtos à base de cannabis.
Mas o foco é poder cultivar cannabis em solo brasileiro. Sabemos que associações de pacientes e algumas famílias possuem a autorização judicial para plantio e extração do óleo de cannabis, mas o processo para conseguir a autorização é lento e cheio de percalços. Algumas associações já foram sujeitas a invasões policiais, o que mostra como é complicada a realidade do acesso à cannabis medicinal no Brasil.

Legalização
A solução para esse panorama parece ser a aprovação do PL 399/15. O texto do projeto foi aprovado em Junho, mas aguarda apreciação de requerimento para ser votado em plenário.
É possível que a proposta seja encaminhada diretamente ao Senado e, se aprovado, o presidente ainda precisa sancionar para efetivação do projeto em lei.
Apesar da bancada ruralista não ter emitido orientação formal de voto, alguns de seus integrantes afirmam ser possível obter maioria no Congresso para a proposta. Hoje, a Frente Parlamentar da Agropecuária tem quase metade das cadeiras na Câmara e no Senado. A lei requer aprovação por maioria simples.
Fausto Pinato, que foi presidente da comissão de agricultura até março deste ano, se mostrou favorável ao projeto, “Se você está autorizando a venda (de produtos de cannabis), por que não o cultivo?”, afirmou à Reuters.

Críticas
As críticas ao PL consistem exatamente no fato do projeto favorecer grandes indústrias e colocar restrições que podem atrapalhar o cultivo por parte de associações e famílias de pacientes.
Do outro lado da moeda, entretanto, são os lobbies empresariais e agrícola que têm forte influência na política brasileira, infelizmente. Portanto, possivelmente, para que a legalização aconteça, será feita da maneira como eles acharem melhor.
Devemos continuar lutando por uma legalização que favoreça a todos, mas, antes de tudo, temos que torcer para as propostas avançarem.