O Afeganistão é o maior fornecedor de ópio ilícito do mundo, além de ser um dos três maiores produtores de haxixe, ao lado do Marrocos e Paquistão, e de ter começado a produzir metanfetamina desde 2015, por contar com plantações abundantes da planta nativa efedra, que contém o estimulante químico da metanfetamina.
Durante a presença das forças norte-americanas no país, o governo estadunidense gastou US$ 8 bilhões para tentar acabar com a produção e comércio internacional das substâncias ilegais proveniente do país.

Não funcionou. O Afeganistão se manteve como um dos maiores produtores de drogas ilegais do mundo, com o maior número de hectares de papoula. E o problema é que parte da população depende do cultivo, produção e venda dessas drogas ilícitas para sobreviver. Os narcóticos ilícitos são uma das maiores indústrias do país, logo após a indústria de guerra.
A maior preocupação das autoridades internacionais é que o caos que está se instaurando no país, com a tomada do Talibã, possa criar condições para uma produção ilícita ainda maior de opiáceos, que, inclusive, favoreceria o grupo armado fundamentalista.
O tráfico ilegal de ópio e haxixe afegão (e paquistanês) é, há tempos, uma das maiores fontes de renda do Talibã. Outras fontes de lucro do grupo são extorsão e cobrança de impostos de fazendeiros de papoula, além da mineração e de doações de fundos de assistencialismo.
Um relatório desenvolvido pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), estima que o orçamento do grupo para atuar em 2019 e 2020 foi de US$1,6 bilhão, vindo de fontes ilícitas.
O medo das autoridades internacionais é que o Afeganistão se torne um narco-estado nas mãos dos fundamentalistas armados.
Conforme afirma a especialista Elaine Shannon, para The Washington Post, ”o Talibã agora controla uma nação com uma produção estrondosa de ópio, haxixe e metanfetamina. Os líderes do Talibã podem anunciar repressão a essa produção por motivos religiosos, mas não se engane: o que importa é o dinheiro. Como os traficantes em todos os lugares, o cartel investirá no caos. É bom para os negócios. E o que é bom para o narcotráfico afegão é bom para o Talibã. O mundo poderá, em breve, conhecer o narco-estado mais rico e bem armado já concebido”.
O Talibã diz o contrário
Em coletiva de imprensa, divulgada pela CNN, um porta-voz do Talibã disse que o Afeganistão será livre de drogas: “a partir de agora ninguém mais estará envolvido no tráfico de drogas no Afeganistão, seremos um país livre de drogas”.
A promessa do grupo vem junto à afirmação de que não haverá discriminação de mulheres, nem perseguição da população, e que a imprensa será livre e independente. Apesar disso, a atuação do Talibã ao longo da história prova o contrário.
Nos anos 2000, o grupo chegou a banir a produção de papoula no Afeganistão, enquanto buscava legitimidade internacional, mas enfrentou forte reação popular e mudou sua postura, voltando a permitir (e se aproveitar) da produção ilícita.
A questão é: muitos fazendeiros (e até a economia do país) dependem da receita proveniente do cultivo e produção do ópio. Ao eliminar a produção e comércio das drogas ilícitas, conforme prometido, de onde virá a renda de quem depende dessa atividade?

”O futuro governo precisará agir com cuidado para evitar provocar resistência e rebelião violenta” da população rural, afirma o pesquisador David Mansfield para Reuters, ao considerar as possíveis consequências do posicionamento do Talibã em relação às drogas.
Ao que tudo indica, o grupo adotou um posicionamento de repressão às drogas por motivos fundamentalistas e para garantir legitimidade ao seu novo governo no país afegão. Porém, o Talibã pode estar longe de cumprir sua palavra. Não só a economia do país está em jogo com o fim da produção das drogas ilícitas, mas também a principal fonte de lucro do grupo.
Teremos que esperar os próximos capítulos para entender o que será do país e da população sob comando do Talibã.